A Festa na loja
- Rubens Gualdieri
- 21 de set.
- 4 min de leitura
Por Paulo "Papito" Franchetti

Finalmente chego à festa. O comboio percorreu a cidade com as bandeiras de todos os chapters e grupos participantes, e nos reunimos na concessionária, como de costume.
[Um parêntese…
É preciso dizer que a loja ainda carece de melhorias para estar à altura do HOG que tem. É desagradável mencionar, mas inevitável. É preciso um estacionamento adequado para motos e carros, ventilação melhor no espaço da festa e, sobretudo, uma rampa decente. A atual parece ter instinto assassino contra motos – e, no caso dos cadeirantes, já mostrou ser um obstáculo de consequências funestas. De todo modo, apesar de tudo, percebo que a concessionária começa a redescobrir a importância do HOG. Talvez em breve não se tenha mais a impressão de que aqui em Campinas o grupo luta contra uma mentalidade moldada apenas pela venda de carros, ou até de motos de outras marcas, porém incompatível com o universo e a afetividade Harley-Davidson. O parêntese é chato, sim, mas é a verdade.
O entusiasmo desta diretoria do HOG, porém, a vontade de construir, de fazer acontecer e sustentar os ideais do motociclismo superam tudo. Fecho o parêntese.]
Voltar à loja é sempre emocionante. Rever amigos de estrada, afeições gratuitas – porque sem interesse profissional ou material –, celebrar a alegria de estar vivo e de compartilhar experiências e esperanças: tudo isso faz da loja Harley um espaço sem igual.
Ontem, por exemplo, reencontrei pessoas que falam ao meu coração e que não via há tempos. Zé Rodinha e Lu, por exemplo. Não os encontrava desde a visita que me fizeram em Coimbra, quando tomamos um bom vinho! Lu passou por momentos terríveis, superados apenas pela sua vontade férrea de viver. Perdeu partes do corpo, mas não da alma.

Aproximar-me dela e tentar um abraço - difícil pela situação, mas realizado em espírito - foi uma emoção imensa. O exemplo dela anima e conforta. E a devoção do marido inspira e alimenta a esperança.
A presença do casal trouxe ainda ótimas lembranças. Foi por causa do Zé Rodinha que me integrei ao HOG. Eu, de BMW, senti-me estranho no grupo e ao chegar ao destino estava já decidido a não fazer o check-in no hotel. Ele percebeu, aproximou-se e me disse que a marca não importava quando o coração era de motociclista. Além disso, foi um road captain inigualável, e um diretor que abria espaço para que os demais pudessem levar adiante suas iniciativas. Nesse sentido, como observou bem Carleans, nosso atual presidente, o Rocco é a continuidade do espírito do Zé. Talvez não tenham convivido tanto, mas a herança passou, e graças a ela o HOG revive.
Também reencontrei outros exemplos de superação e força: Lucimeire que não via há séculos e que abracei comovido, e Kaká, esteio do HOG, sempre dinâmica, também enfrentando e superando as próprias adversidades.
Um momento especial da festa foi rever o famoso Chico Bento — Eduardo Lima Edu foi o melhor abre-alas do HOG. Montado em sua DeLuxe, ia de ponteiro, abrindo caminho, avisando motoristas da aproximação do comboio e garantindo a passagem nos pedágios, onde prestava continência com ar solene, a vasta bigodeira grisalha emoldurando a séria homenagem aos motores que passavam. Depois, disparava como um corisco, reassumia a dianteira e mantinha sua posição isolada.
Por alguma razão, nós nos gostamos desde o início. Nunca convivemos fora do ambiente motociclístico, e mesmo dentro dele, pouco. Mas a afeição foi imediata e estável: não diminuiu nem cresceu, permaneceu desde os primeiros quilômetros. Nossa comunicação sempre se deu sobre as motos, por gestos e comportamentos na estrada, primeiro quando eu era integrante do comboio, depois quando éramos colegas de diretoria. Ontem nos abraçamos como sobreviventes de um naufrágio, ou como velhos amigos de escola que se reencontram numa comemoração. Foi um dos pontos altos do dia, que já era pleno de maravilhas.
Nós, os mais velhos, temos dificuldade com três coisas: bancos duros, som muito alto e calor. Por isso logo nos reunimos no interior da loja, no showroom. Ali ficamos em boa conversa e melhores risadas. Carleans estava, como sempre, animadíssimo, mal conseguindo parar quieto. Quando, tomado de emoção, disse ao Zé e à Lu que queria uma foto íntima com eles, estava sendo ele mesmo: engraçado por querer e sem querer.
Ali permanecemos por um bom tempo, posando para as fotos da Aninha, bela fotógrafa de simpatia ímpar. A paz só foi interrompida quando eu, o Historian, homem de muita idade e pouco juízo, resolvi descer a fatídica rampa… e me esborrachei.
A imprudência foi compensada pelo carinho e cuidado de tantos: Andrea, Kaká, Valéria e mais gente, formando uma grande roda. Houve até quem fosse comprar curativos. Por isso, por pior que tenha sido a queda, a solidariedade foi fantástica e consoladora.
Não faltou o que também marca as festas do HOG: cerveja de primeira, churrasquinho e hambúrguer saborosos. Da companhia fraterna, do ambiente leve e da alegria nem é preciso falar: são a marca do nosso grupo. A alegria, como dizia Oswald de Andrade, é a prova dos nove. Nosso HOG, portanto, está aprovado em nove, noventa e novecentos - para com esse números assinalar também o desejo de inclusão e integração com outros chapters e grupos.



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